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Emoções no TDAH.

Nairete Correia - Psicóloga esp. em Neuropsicologia - CRP 19/453 SE • June 25, 2020

ENTENDENDO O PAPEL DAS EMOÇÕES NO COMPORTAMENTO


A enquete realizada com os pais de crianças e adolescentes portadores do TDAH sobre suas emoções mais presentes na relação com o transtorno.  As repostas indicaram que as emoções mais presentes na maioria dos respondentes foram:
Preocupação (90%);
Medo (72%);
Cansaço e Ansiedade (63%);
Seguidas de Insegurança (54%);
Confusão (27%);
Tristeza e Raiva (18%);
Solidão (9%).

A mesma enquete deixada para os adultos portadores do transtorno e obtivemos as seguintes informações:
Ansiedade (88%);
Preocupação e confusão (77%);
Medo (66%);
Culpa e Cansaço (55%);
Vergonha (44%); 
Tristeza (33%);
Raiva e solidão (0%).

Análise dos dados sugerem que, enfrentar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade/Impulsividade – TDAH/I, tem causado nos pais e mães uma grande preocupação, e nas falas dos respondentes as preocupações versam sobre as dificuldades que terão durante suas vidas para conviver com o transtorno sabendo, principalmente que é algo que não é curável. O medo está vinculado ao fato de lidarem com o desconhecido e muitas perguntas dos
pais são: “será que meu filho vai se tornar independente um dia? Será que vai completar sua escolarização e vai ter uma profissão? Será uma pessoa bem-sucedida? Constituirá família e será capaz de educar seus filhos? Será que precisa mesmo da medicação? Será que essa medicação não trazer outras complicações?

A importância de estarmos realizando esse trabalho, ainda incipiente, com um pequeno grupo de pessoas, está principalmente em levar para esses pais e mães, um conforto emocional, por meio das informações técnicas, voltadas para o esclarecimento do curso do transtorno, seu tratamento e seu prognóstico e principalmente a promoção da troca de experiências. Outrossim, devemos sempre enfatizar que o TDAH/I, tem um componente genético e nas
famílias onde se apresenta uma pessoa com transtorno, poderá ter mais de um portador do Transtorno que ainda não fora diagnosticado.

Procuramos mostrar que a importância do conhecimento sobre o Transtorno e a consciência do grau de comprometimento com o tratamento pode ser definitivo para a melhora dos sintomas e na eficácia do tratamento. O portador de TDAH/I pode se realizar, ser um profissional bem-sucedido, e que para além das dificuldades, eles têm características positivas e habilidades que podem ser exploradas para seu melhor desempenho. O tratamento multimodal (medicamento, psicoterapia e treinamento dos pais) são utilizado e têm apresentado bons resultados para um prognóstico mais favorável.

As Emoções presentes a partir do relacionamento de pessoas não portadoras com outras portadoras do transtorno, no entanto, apresentam componentes afetivos que são responsáveis pelo comportamento dos pais em relação aos filhos no uso de estratégias de enfrentamento e nos estilos e práticas parentais que passam a ser aplicadas.

Compreendendo um pouco sobre as Neurofisiologia das emoções as pessoas poderão ter maior motivação para melhorar sua condição de manejo dos conflitos e problemas, gerados no cotidiano com o TDAH.

E de onde vêm as emoções? Quais são seus ingredientes?

Imagine que ao voltar para casa, tarde da noite, passando por uma rua deserta, você ouve o barulho de um motor e pensa que alguém de motocicleta está em seu encalço. Seu coração dispara, você anda mais depressa, especula sobre as intenções do motoqueiro, fica apavorada(o).

Como ilustrado acima, as emoções são uma mistura de:
(1) excitação fisiológica [coração disparado];
(2) comportamento expressivo [passos apressados];
(3) experiência consciente [interpretação das intenções da pessoa e sentimentos de apreensão].

Na realidade os nossos estados emocionais acabam nos incapacitando de reagir a algumas situações, de forma menos sofrida ou adequada. As emoções que sentimos estão relacionadas com nosso estado neurofisiológico. Se uma pessoa passar um longo período de tempo exposta a emoções negativas, ela acabará desenvolvendo algumas doenças ou comportamentos sintomáticos devido a uma produção de hormônios e neurotransmissores envolvidos no
processamento neurofisiológico dessas emoções. Falaremos um pouco sobre algumas emoções.

Os medos fazem parte da nossa evolução. Uma chave para a aprendizagem do medo está na amigdala, um centro nervoso do sistema límbico, situado no fundo do cérebro, e responsável pela associação de várias emoções. O medo é uma reação adaptativa, mas pode ser uma reação traumática.  A Raiva nos causa bem e mal dependo de como será processada e extravasada. A raiva é considerada uma emoção despertada com mais frequência por eventos não apenas frustrantes e insultuosos, mas também interpretados como intencionais, injustificados e evitáveis. Outras emoções negativas como a ansiedade e depressão, também podem alimentar a raiva.

Descarregar a raiva pode proporcionar um alívio temporário, mas não reduz a raiva a longo prazo. E a raiva é uma emoção danosa para a saúde mental e física do ser humano. Para a raiva a amigdala é estimulada e ativa o hipotálamo responsável por ligar o sistema nervoso ao sistema endócrino que sintetiza a descarga do hormônio liberador de corticotrófica (CRH) que vai ativar as suprarrenais e começam a secretar os hormônios do estresse como o cortisol, adrenalina e noradrenalina. Diminui a produção da serotonina, que faz aumentar a raiva e o comportamento agressivo, e leva à depressão. O excesso no nível de cortisol suprimi as atividades do córtex préfrontal e no hipocampo. E isso dificulta que você use sua capacidade de melhor julgamento, de tomar boas decisões e enfraquece sua memória de curto prazo. (McCarthy, Jenna. “Arger Management”. 2008).

Para alguns teóricos as emoções estão relacionadas a nossa cognição e deriva do nosso pensamento e de inferências e interpretações. Na medida que as emoções estão enraizadas no pensamento, podemos ter a esperança de alterá-las pela mudança do pensamento. Se aprendermos a pensar de maneira mais positiva sobre nós e sobre os eventos da vida, pode ser que passemos a nos sentir melhor.

As ansiedades surgem pelas incertezas e pelo enfrentamento de situações desconhecidas, por não saber como será o próximo momento. A ansiedade se torna incapacitante quando as pessoas se tornam tensas de uma maneira inexplicável e incontrolável, sentem medo irracional de alguma coisa, ou são perturbadas por pensamentos e ações repetitivos. Mas a ansiedade faz parte da vida. Em algum momento ou noutro, a maioria das pessoas sente tanta ansiedade que evita fazer contato visual ou se abstém de falar com alguém. Quando essa reação é intensa, aflitiva, persistente e desadaptada, dizemos que aí existe um transtorno de ansiedade.

O distúrbio de ânimo que é caracterizado por desesperança e apatia, é conhecido como Transtorno Depressivo. A depressão se faz presente em momentos de insegurança relacionada ao presente, incertezas e insatisfação com a vida, e isolamento dos outros. A falta de energia para realizar tarefas corriqueiras, a incapacidade de se concentrar, dificuldade de se alimentar, dificuldade para dormir e ideação suicida, são sintomas mais graves no processo da doença. A
característica mais comum desse transtorno é humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que alteram significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. Porém, é sabido que há uma relação circular entre o ânimo deprimido e o pensamento negativo. A depressão causa o pensamento negativo focalizado no EU, enquanto um estilo focalizado no EU e de culpa pessoal para explicar os eventos, expõe a pessoa ao risco de depressão no enfrentamento de acontecimentos ruins.

Outros modos de apresentação do Transtorno Depressivo: 
Transtorno disruptivo da desregulação do humor; 
Transtorno depressivo maior (incluindo episódio depressivo maior); 
Transtorno depressivo persistente(distimia); 
Transtorno disfórico pré-menstrual; 
Transtorno depressivo induzido por uso de substancias/medicamento; 
Transtorno depressivo devido a outra condição médica;
Transtorno depressivo especificado;
Transtorno depressivo não-especificado.

O que difere entre eles? São os aspectos de duração, momento ou etiologia presumida. A investigação mais aprofundada se faz necessário para seguir um tratamento medicamentoso ou multimodal. Atenção especial é dada à diferenciação entre a tristeza e do luto normais em relação a um episódio depressivo maior. Uma pessoa deprimida vive consequências sociais, fica retraído, lamuriento atrai rejeição, focalizado em si mesmo, induzem hostilidade. Cansados da fadiga, da desesperança e da apatia de uma pessoa deprimida, um cônjuge pode ameaçar ir embora ou um chefe pode começar a questionar a competência da pessoa. As pessoas deprimidas têm altos índices de divórcio e perda de emprego – eventos que só agravam a depressão. 

Pensemos que eventos estressantes interpretados através de um estilo explicativo ruminante e pessimista, criam um estado desesperançado e deprimido que, afeta a maneira como a pessoa pensa e age. Isso por sua vez, alimenta mais experiências negativas. É um ciclo que todos nós podemos reconhecer. Os ânimos ruins alimentam-se de si mesmos: quando nos sentimos tristes, pensamos de maneira negativa e recordamos experiências ruins. Quando pensamos melhor podemos romper o círculo da depressão em qualquer desses pontos – mudando para um ambiente diferente, invertendo as atribuições negativas e de culpa pessoal, transferindo nossa atenção para o exterior ou nos empenhando em atividades mais agradáveis e num comportamento mais adequado e hábil.

Apesar de poucas pessoas falarem sobre a solidão faremos uma referência a ela. O que é a solidão? Ficar sozinho muitas vezes gera solidão. Pessoas que estão sozinhas, solteiras, sem compromissos, geralmente jovens – têm mais possibilidades de se sentirem solitárias. A solidão - percepção angustiante de que os relacionamentos sociais de uma pessoa são deficientes – é ao mesmo tempo um fator que contribui para a depressão e o seu próprio problema. Especulase que a ênfase à realização individual e a depreciação de relacionamentos estáveis e compromissos com outros são “fatores que provocam a solidão”.

As pessoas geralmente experimentam um ou mais de quatro tipos de solidão (Beck & Youg, 1978). Estar solitário e se sentir excluído de um grupo a que você gostaria de pertencer; é ser pouco amado e ignorado pelas pessoas ao seu redor; é se sentir restringido e incapaz de partilhar suas preocupações pessoais com alguém; ou se sentir alienado, diferente das outras pessoas de sua comunidade. As pessoas solitárias tendem a culpar a si mesmas, atribuindo a deficiências dos relacionamentos sociais às suas próprias inadequações (Snodgrass, 1987). Pode haver uma base para esse sentimento de culpa: as pessoas com solidão crônica tendem a ser tímidas contrafeitas, sem autoestima, e se percebem como menos competentes e atraentes em termos sociais (Cheeck &Melchior,1990, Luan e Guenn, 1992; Vauxs, 1988). Muitas vezes têm dificuldade de se apresentarem de telefonarem e de participarem de grupos. Além disso, a própria convicção de falta de mérito social restringe a possibilidade de notar e lembrar do feedback positivo e de tomar providencias para reduzir a solidão. Portento, os fatores que atuam para criar e manter os círculos da depressão, também podem produzir um círculo de solidão.


MSC. Nairete Correia 
Psicóloga esp. em Neuropsicologia 
CRP- 19/453 SE
Por NAIRETE CORREIRA / NEUROPSICÓLOGA - CRP 19/453 27 de maio de 2024
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Timidez e Retraimento na Infância – Pode ser autismo?
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O cérebro humano tem o OXIGÊNIO como insumo básico para seu funcionamento. Por isso o funcionamento cerebral reage com muita sensibilidade à deficiência de oxigênio. Pesquisadores em neurobiologia da Universidade de Munique Ludwig-Maximilians (LMU), Universidade em Munique (Alemanha) conseguiram, pela primeira vez, correlacionar diretamente quanto de oxigênio nosso cérebro precisa para a atividade das células nervosas. Segundo o estudo toda energia usada pelo cérebro é gerada principalmente por processos metabólicos aeróbicos que consomem quantidades consideráveis de oxigênio, e as concentrações desse gás determinam e influenciam a função das células nervosas e gliais. A COVID-19 que tem como um dos principais sintomas a falta de ar, tem deixado graves sequelas cognitivas nas pessoas recuperadas. Desde uma simples confusão mental, dificuldade de atenção e de concentração a perda de memória, problemas de compreensão, entendimento e mudanças de comportamento, problemas emocionais (variação de humor), e diminuição da capacidade visuoperceptiva (capacidade de juntar/manipular estímulos físicos, ou de realizar certos movimentos organizados ou adaptá-los para determinado fim). Pesquisadores brasileiros do INCOR afirmam que 80 % dos recuperados da COVID-19 apresentam sequelas neuro cognitivas, mesmo os que apresentaram sintomas leves e aqueles que ficaram assintomáticos. Pacientes recuperados da COVID-19, ao sentirem qualquer sinal de perda cognitiva ou dificuldade como as acima descritas, devem procurar ajuda de um profissional médico ou neuropsicólogo, para que possa realizar uma investigação criteriosa dos sintomas. Nairete Correia Psicóloga - CRP 19/453 Esp. em Neuropsicologia #CuidarNeuropsi #SequelasCovid #Neuropsicologa #NairetePsi #PerdasCognitivas #Memória #oxigênio
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